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12 junho 2006

O dia em que a reforma agrária acabou

A barbárie dos sem-terra no Congresso expõe o fracasso da utopia agrária que custa caro ao País e produz resultados medíocres.
Por Octávio Costa

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/456/economia/reforma_agraria_acabou.htm

Aos gritos de corruptos, mensaleiros e sanguessugas, eles invadiram o Congresso Nacional. Quebraram vidraças, apedrejaram seguranças, lançaram um carro dentro da Câmara dos Deputados e derrubaram o que viram pela frente. No auge do quebra-quebra, promovido na terça-feira (6/Jun/2006) pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), a deputada Luciana Genro (PSOL-RS) pediu a palavra e fez um discurso apaixonado. Citou as explosões populares ocorridas na América Latina e atribuiu a depredação do Congresso à fome e à falta de perspectiva do homem no campo. No mesmo diapasão, o secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), Odílio Scherer, classificou o ato como um “grito de desespero”. Há anos, esse discurso romântico tem servido a dois propósitos. De um lado, justifica e ajuda a tolerar atos de barbárie cometidos por grupos de sem-terra. De outro, adia uma discussão séria sobre custos e benefícios da reforma agrária brasileira, quase sempre apontada como um fim em si mesmo. “Essa reforma tem sido o maior desperdício de dinheiro da nossa história”, diz Xico Graziano, ex-presidente do Incra e especialista em questões agrárias. Em vinte anos, foram gastos R$ 50 bilhões para beneficiar 900 mil famílias. Mas menos de 5% dos 8 mil assentamentos geram renda suficiente – e quase todos recebem até cestas básicas do governo. É um modelo irrigado por bilhões todos os anos, onde se colhe apenas barbárie e vandalismo.

Um líder burguês: Bruno Maranhão, que comandou a depredação do Congresso, é filho de usineiros e vive num apartamento de luxo na capital pernambucana

A ação do MLST começou a ser desnudada no mesmo dia do ataque ao Congresso. Uma fita de vídeo apreendida pela polícia revelou que tudo foi meticulosamente tramado em reuniões ocorridas em Brasília, na sede da Contag, uma organização de trabalhadores rurais financiada pelo Estado. Os líderes do MLST, que treinaram os invasores, discutiram nos mínimos detalhes a invasão do que chamaram de “salão de baile”. E durante quinze dias eles fizeram o levantamento prévio do terreno e da rotina dos seguranças. Um dos militantes resumiu a tática da operação: “É fazer o cavalo doido e entrar arrebentando”. Tudo funcionou com a precisão de um relógio suíço. Sem encontrar resistência, o MLST fincou sua bandeira no Salão Verde. E, literalmente, fez a festa. O pernambucano Bruno Maranhão, secretário nacional de Movimentos Sociais do PT e chefe dos militantes, exultou: “Viemos mostrar ao País que tipo de reforma agrária nós queremos”. Ao justificar tamanho vandalismo, Maranhão, que vive num apartamento de luxo no Recife, argumentou que os parlamentares estariam represando verbas da reforma agrária.

Dinheiro, porém, é o que menos tem faltado para a reforma agrária. Se em 2001 a União destinou R$ 1,7 bilhão ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, a cifra dobrou para R$ 3,3 bilhões no ano passado. A rubrica inversões financeiras, que inclui gastos com desapropriações de terras, pulou de R$ 839 milhões para R$ 1,9 bilhão. Além disso, todos os anos os assentados têm acesso a uma verba de R$ 2 bilhões do Pronaf – Linha A, que é liberada quase a fundo perdido. E há ainda ONGs ligadas a movimentos de sem-terra, como a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), o Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra) e a Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (Concrab), que recebem repasses federais para treinamentos no campo. Só no ano passado foram R$ 9,5 milhões. “O fato é que, nesses convênios, mal se presta conta do que se gasta”, diz o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), que foi um dos principais parlamentares da CPMI da Terra. É desse dinheiro dos convênios que sai a verba que paga os ônibus e as diárias dos “militantes”. Muitos dos 580 sem-terra que depredaram o Congresso e terminaram presos admitiram à polícia que receberam dinheiro para ir a Brasília – uma das promessas era a chance de conhecer o presidente Lula.

Arruaça: Carro jogado no Congresso e estilhaços dos vidros foram o retrato do vandalismo

Para resumir a história, gasta-se muito no Brasil com a reforma agrária mas o resultado é pífio. A área que já foi transferida aos assentamentos no Brasil é próxima a 40 milhões de hectares – pouco menos dos 45 milhões de hectares usados pelos agricultures nacionais para produzir 120 milhões de toneladas de grãos. “Seria mais barato dar bolsa-família para os assentados e treiná-los em programas de capacitação profissional”, diz Graziano. Não há informação oficial sobre o que se produz nos assentamentos. Mas sabe-se que, na maioria deles, existe apenas uma agricultura de subsistência. Pesquisa do Vox Populi, feita para a Confederação Nacional da Agricultura, constatou que apenas 40% das famílias permanecem nos assentamentos. Os demais preferem revender os lotes. Além disso, mais de 80% dos militantes sem-terra jamais trabalharam no campo. “São desempregados urbanos, arregimentados por líderes com pretensões revolucionárias”, diz o advogado Diamantino Silva Filho, especializado em conflitos de terras.

Esse quadro acabou criando uma situação inusitada no Brasil. No mundo de quem realmente produz, há milhares agricultores abandonando suas terras em função da baixa rentabilidade das lavouras. Só nos últimos dois anos, os prejuízos do campo somaram R$ 30 bilhões. No mundo da utopia agrária financiada pelo Estado, há um exército de desempregados urbanos, sem experiência no trato com a terra, sendo atraídos para as fazendas. “Eles vêm apenas porque enxergam uma via de acesso rápido ao dinheiro público”, diz o deputado Lupion. Quem é do campo afirma que seria muito mais eficiente apoiar quem realmente tem vocação para a agricultura. Era assim no regime militar, quando a reforma agrária era chamada de colonização. “Na nossa época, o teste era olhar para a mão do sujeito; se fosse calejada, ele era agricultor”, relembra o ex-ministro Alisson Paulinelli. Hoje, ele diz que movimentos como o MLST viraram abrigo de pessoas que quase sempre não têm interesse nem vocação para plantar.

Exagero? Como explicar, então, a presença da jovem Francielli Ascêncio na invasão da Câmara. Identificada pela aparência de classe média e pela tatuagem no dorso, Francielli ganhou destaque nas cenas de violência ao destruir com o pilar de ferro os terminais de informação da Câmara. Quem é ela? Ex-vendedora de roupas, Francielli decidiu se juntar a um movimento de sem-terra em Uberaba, para subir na vida. É gente assim que tem engrossado os exércitos de “militantes”. Só em Uberada existem quatro movimentos como o MLST. No Brasil, credenciados junto ao Incra, já são mais de 50. É desse casamento de interesse entre o radicalismo amalucado de um Bruno Maranhão e a desilusão de jovens desempregados que tem surgido o caldo de cultura para a violência agrária, paga e incentivada pelo poder público. “O Congresso viveu seu dia de campo e os parlamentares viram o que acontece todo dia nas fazendas”, diz Antônio Ernesto de Salvo, presidente da Confederação Nacional da Agricultura. “O duro é que o Brasil é o único país que ainda aceita financiar a destruição de quem produz”. Passado o baile do MLST, espera-se que, finalmente, a reforma agrária brasileira – tal como concebida – comece a sair da agenda do País.



Pois é querido Lula... está ai o resultado de suas ações de populismo! Lembre-se sempre daquele ditado, "quem cria cobras..."