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26 janeiro 2007

Porque ando de bicicleta em São Paulo

Pode parecer coisa de maluco, mas não é! Vivendo em grandes centros urbanos como São Paulo, frequentemente temos momentos de estresse profundo, gerado pelas horas intermináveis no trânsito, o medo de assalto, roubo, sequestro, a luta pela permanência ou busca de emprego, filas, burocracia, corrupção, poluição, etc... Andar de bicicleta pode devolver uma parte do prazer de viver em grandes centros. Há uma troca de energia que "recarrega" o indivíduo, para que ele possa continuar vivendo na cidade, enfrentando seus problemas e conflitos. O contato com seu ambiente, o prazer pelo desafio, pelo imprevisto, pela liberdade de não estar preso no trânsito são aspectos positivos que aliviam o estresse que acompanha o cotidiano das grandes metrópoles.

Usar a bicicleta como meio de transporte, tanto na metrópole como nas estradas ou trilhas, é ao mesmo tempo, desafiar, ousar, arriscar e, de certa forma, superar os limites do cotidiano e da rotina. O ser humano tem uma necessidade de superação. Precisamos nos sentir fortes e competentes, uma vez que a nossa sociedade atual exige isso de nós. A bicicleta por sí só, favorece essas experiências. Usar a bicicleta como meio de transporte é uma aventura. A cada pedalada, a cada percurso, a cada desafio superado, sempre a sensação de conquista, superação e satisfação.

Muitas pessoas porém, têm medo de transitar de bicicleta pelas ruas e avenidas das grandes cidades. Acreditam que só podem andar protegidos por ciclovias, esquecendo que muitas vezes o maior problema do ciclista nas vias é o próprio ciclista. As ruas são dos veículos motorizados, isso é uma realidade com a qual nós ciclistas temos que conviver. Mas esse medo do trânsito pode ser superado, desde que se pedale com segurança. Quando o ciclista enfrenta o trânsito, além de fugir do estresse urbano e desafiar-se, experimenta uma estranha sensação de poder entrar em sintonia com o trânsito e o ambiente por onde pedala. O ciclista urbano, como qualquer ciclista, lida com vários imprevistos. Mesmo com todos os problemas, quando alcança seu destino, tem uma sensação de euforia e bem estar. Andar de bicicleta é isso!

Além de tudo isso, ao utilizar a bicicleta, eu provo a mim mesmo, e mostro aos meus colegas que:
  • Nas distâncias entre 400 metros a 1,5 km, a bicicleta é o meio de transporte mais rápido, e mesmo com distâncias ultrapassando os 10 km, a bicicleta é mais rápida que os carros nos horários de trânsito mais intenso (fato comum aqui em São Paulo);
  • 10 bicicletas estacionadas ocupam a vaga de um automóvel;
  • 5 bicicletas em movimento ocupam o espaço de um automóvel;
  • É o veículo mais barato e econômico do mundo. Os gastos de manutenção são mínimos;
  • Nunca fica presa em engarrafamentos;
  • É fácil de estacionar;
  • 5.000 bicicletas em circulação, representam 6,5 toneladas a menos de poluentes no ar!

Ainda quer outros motivos para pedalar? Os estudos de volume de tráfego indicam que uma faixa de via rodoviária pode transportar o dobro de pessoas em bicicleta do que em automóvel: com velocidades de tráfego de 16 km/h, como acontece por exemplo em São Paulo, Londres e Nova York, o automóvel não apresenta nenhuma vantagem. Na China, com o seu enorme parque ciclistico, chegaram a contabilizar a passagem de 50.000 bicicletas por um ponto determinado no decorrer de uma hora!

Sendo um transporte não poluente, a bicicleta é cada vez mais uma alternativa diante dos avisos globais sobre o efeito estufa e as consequências do aquecimento global, o aumento no buraco da camada de ozônio, que inclusive já atinge o estado do Rio Grande do Sul, utilização racional dos recursos energéticos limitados e outros problemas ecológicos que não são agravados com uso da bicicleta nem pelo seu processo industrial, que é simples e barato.

Infelizmente, o que acontece hoje é que a bicicleta, quando não ignorada totalmente, é discriminada e segregada pela maioria das pessoas, dos administradores públicos, dos técnicos de trânsito, e por fim, pela quase omissão total do poder público. Os oponentes da bicicleta nas ruas e nas estradas acreditam quase cegamente que o objetivo do seu uso como um meio de transporte está relacionado apenas com o trânsito, não sendo capazes de perceber que isso implica também em questões de saúde pública e ambientais!

Esse tipo de pensamento, que permea os nossos governantes, políticos, técnicos e estudiosos de trânsito, reflete a falta de conscientização sobre a importância da bicicleta como uma solução para os muitos problemas da cidade ou pelo direito do ciclista de usar a sua bicicleta como um meio legítimo de transporte. Lamentavelmente, muitos ainda entendem que andar de bicicleta nas vias públicas é uma irresponsabilidade total, um risco desnecessário e, ao invés de usar a bicicleta, é ainda melhor embarcar num ônibus, taxi, carro, perua, como se locomover-se de carro, ônibus ou trem fosse mais seguro.

Mas eu faço a minha parte! Utilizo a bicicleta com frequência, utilizo os tranportes públicos de São Paulo, que funcionam muito bem, e também estou conquistando outros adeptos do ciclismo! Meu irmão, que conseguiu junto ao banco onde ele trabalha a criação de um bicicletário dentro do prédio, junto ao estacionamento dos superintentendes e executivos, e já está utilizando a bicicleta para ir ao trabalho. E uma colega de trabalho, que a alguns dias estava me perguntando onde era o bicicletário da empresa onde estamos trabalhando, perguntando qual roteiro eu utilizava para ir e voltar do trabalho, etc. Acredito que logo teremos mais uma pessoa comprovando as vantagens da bicicleta!